Portuguese Prospectus – Neoliberalism and Higher Education in Latin America

Latin American Perspectives
Chamada de artigos para número temática
Neoliberalismo e Educação Superior na América Latina
Issue Editors: Bernadete Beserra and Robert Austin

A globalização do modelo econômico neoliberal durante a década de 1980 provocou, também na América Latina, uma acelerada mercantilização do sistema de educação superior. Se a primeira década após o fim da União Soviética foi marcada pelos novos movimentos sociais como a principal forma de oposição ao capitalismo tardio, a segunda testemunhou esporádicas porém mais prominentes manifestações estudantis. A crise capitalista iniciada em 2008 — interpretada como uma crise financeira global, crise estrutural ou cíclica ou exaustão do modelo vigente — acelerou os protestos. Em 2010, estudantes universitários e secundaristas protestaram em massa contra aspectos do sistema neoliberal no Chile; na França e Grécia, em 2006; nos Estados Unidos (California, 2009); na Itália, Inglaterra e Porto Rico, 2010 e, finalmente, no contexto da Primavera Árabe, em vários países do Oriente Médio, começando pela Tunísia e Argélia, em 2010. Não é  uma coincidência que o Chile – primeiro país do mundo a adotar a doutrina dos “Chicago Boys” — tenha, a partir de 2011, sido sacudido por grandes manifestações estudantis contestando os efeitos da quase completa privatização do sistema educacional.

Sob a promessa da democratização do acesso das massas ao ensino superior, governos e corporações educacionais no mundo inteiro têm transformado uma área que até recentemente ficava sob a responsabilidade do Estado em mais uma fronteira de expansão do capital corporativo e da acumulação  de lucros privados. Resultado das demandas neoliberais, a expansão do ensino superior tem sido acompanhada de uma transformação na forma como a universidade e outras instituições de ensino superior se definem e justificam sua existência. No processo, a ideia liberal de universidade como espaço aberto ao debate intelectual livre com ênfase na autonomia, pesquisa e contribuição à formação moral e intelectual da nação cedeu lugar à de um ambiente cada vez mais constrangido pela ênfase na produtividade e nos indicadores de desempenho. Proposta e diferentemente experimentada primeiro nos centros capitalistas, os significados e expressões dessa mudança no ensino superior se modificam na medida em que se difundem pelas diversas regiões político-econômicas do planeta. Apresentadas sob diversas vestes e discursos, passam a fazer sentido e serem instrumentalizadas tanto por governos “de direita” como “de esquerda”, conforme observa-se na América Latina onde tais políticas têm combinado a privatização e o controle governamental.

No Brasil, por exemplo, sob o mesmo argumento da expansão e da massificação do alcance do ensino superior, políticas bastante diversas em aparência, mas não necessariamente em consequências, foram experimentadas pelos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva. Em vez de promover a expansão do ensino superior combinando aumento da privatização com a drástica redução dos salários dos professores e funcionários e das verbas de manutenção das instituições públicas, como fez Cardoso, Lula da Silva promoveu a privatização ao mesmo tempo em que também investiu no ensino superior público. Embora, estatisticamente tenha financiado o ensino superior privado ainda mais do que o seu antecessor, o governo Lula se protegeu politicamente com a criação de novas instituições públicas de ensino superior e ampliação das vagas nas já existentes, embora, por outro lado, tenha tornado tais instituições cada vez menos autônomas e mais aparelhadas pelo Governo.

O objetivo deste número especial é investigar como o neoliberalismo tem transformado a universidade na América Latina e as expressões de resistência a tal processo. Em síntese: que tipo de universidade tem o neoliberalismo produzido? Para quem, com quem e com que propósitos?

Os editores convidam a submissão de artigos que apresentem estudos gerais, comparativos, nacionais ou regionais, e também aqueles que reflitam sobre a nova estrutura universitária, missão intelectual (i. e, currículo, pesquisa, formação profissional) em perspectiva etnográfica, histórica ou econômica.

Os tópicos abaixo são particularmente bem vindos, embora haja abertura à consideração de outros:

– Condições de produção do conhecimento sob as práticas e políticas neoliberais na América Latina.

– A universidade como uma nova fronteira do capitalismo global (por exemplo, através da educação superior privada, inclusive cursos à distância, crédito estudantil, agendas de pesquisa, etc).

– A instrumentalização das universidades públicas pelos Governos e pelo Estado, inclusive, no sentido da legitimação e implementação de políticas públicas.

– A autonomia universitária sob as pressões políticas do Estado e das agências financiadoras nacionais e internacionais (Ford, Mellon, Rockefeller, IAF, CNPq, CAPES, etc.) e os seus efeitos na definição da agenda de pesquisas e mudanças curriculares.

– O significado das novas modalidades de parceria entre os setores públicos e privados;

– Expansão da educação superior: democratização ou massificação? Transformação ou reprodução de hierarquias?

– Neoliberalismo, desigualdades sociais e universidade: as disparidades entre a educação básica pública e privada e os seus efeitos na universidade; políticas de ações afirmativas para grupos sociais discriminados ou marginalizados (pobres, negros, indígenas, etc) e programas especiais para o atendimento de suas necessidades intelectuais e culturais particulares.

– O protesto anti-neoliberal nas práticas e políticas dos movimentos docente e estudantil;

– Universidades na cena política: conceitos e práticas de cidadania e relação com os movimentos populares e estudantis;

– A universidade nos países de governos anti-neoliberais.

INSTRUÇÕES AOS COLABORADORES

Para evitar duplicação de conteúdo, sugerimos que os autores entrem em contato com os editores para informar do seu interesse em enviar um artigo e o tema que querem desenvolver. Os artigos devem ser submetidos o mais brevemente possível, porém esta chamada de artigos permanecerá aberta enquanto estiver postada no site da LAP.

Os manuscritos devem ter no máximo 8,000 palavras, incluindo notas e referências. Espaço duplo, com fonte Times New Roman 12, margens de 1 polegada e paginados. Devem conter um resumo de no máximo 100 palavras, cinco palavras-chave e uma folha de rosto separada, com identificação do autor, filiação e informações de contato, incluindo e-mail e endereço postal.

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Os manuscritos submetidos devem ser originais que não foram publicados em inglês e que não estejam sendo submetidos ou considerados para publicação em forma idêntica ou similar, em outras revistas.

A submissão de artigos deve ser feita diretamente através da secretaria da revista, em formato Word doc para: lap@ucr.edu. Coloque seu nome na linha “assunto”, como a seguir – “Seu nome – MS for Higher Education issue”. Porém, em caso de dúvida ou necessidade de maiores esclarecimentos sobre este número especial, por favor entre em contato com os editores:

Bernadete Beserra (bernabeserra@gmail.com)
Robert Austin (r.austin@sydney.edu.au)